As cidades prosperam, crescem na direção do céu; o país avança para o status de primeiro mundo; e cada vez mais as pessoas acumulam o medo, nas suas mais variadas formas: da violência, de ser rejeitado, de não ser aceito, de não conseguir, de não dar certo, de não ter o que comer, de faltar, de não conseguir emprego, de não casar, de não amar e ser amado e de tantas outras coisas.
Muitas vezes carregamos o medo de outras pessoas como se fosse nosso. Os pais e responsáveis são os primeiros a descarregar seus medos nas crianças. Essas pessoas confundem educar com amedrontar. “Se você não for dormir eu chamo a mula-sem-cabeça”, se você fizer isso “Deus castiga”, “saia da janela senão você cai e quebra a cabeça“.
“Se você não casar o mundo vai pensar que você tem um problema”. “Faz mal tomar banho à noite”. “Mulher maquiada é coisa do demônio”. “É feio isso e aquilo”. Medo é como a falsa gravidez; é criar e aumentar uma fragilidade que não existe. Os pais também fazem você não gostar de manga, de brancos, de pretos, de índios, de orientais, disso e daquilo.
Você também deixa de gostar de vegetais porque na casa da sua mãe ninguém comia vegetais porque “não dava sustança”. Na verdade, por uma razão qualquer, a engenharia genética espacial resolveu fechar a porta da memória e do conhecimento nos verdes anos da infância e da adolescência, talvez para dar a chance dos pais se empenharem na educação dos filhos, considerando que todo pai e toda mãe se preocuparia com isso de forma natural e equilibrada.
Esse zelo também deu errado de outra forma: os pais que se preocupam demasiadamente com a educação dos filhos para recuperar aquilo que eles não tiveram dos seus pais e as vezes o tiro sai pela culatra: filhos perdidos e desorientados que odeiam os pais e suas escolhas. É, a questão da imitação e da cópia é terrível. Os filhos com índole fraca imitam e copiam os pais em tudo, deixando assim de assumir suas vontades e personalidades originais. Isso inclui os medos e angústias. Quem cresce em orfanatos sadios pode ser mais equilibrado do que quem veio de uma família cheia de desajustes, herdados ou desenvolvidos ao longo dos anos. Já se sabe que medos, angústias e sofrimentos podem ser herdados dos pais, através da gravidez. Aliás há muita coisa que se herda, inclusive a homossexualidade e a heterossexualidade descontrolada. Esse processo de herança é involuntário e por isso não devemos crucificar os pais pela nossa herança genética, mas podemos pensar em não retransmitir muita coisa visível e palpável para os filhos.
Uma cliente passou a engordar depois que o filho completou 18 anos e começou a sair nos finais de semana com os amigos. Ela faz de tudo para impedir que o filho saia. O programa da sexta-feira à noite já está agendado: brigas com o filho, as vezes na frente dos amigos. Ela deita-se no sofá e dali não sai até que o filho volte para casa, não só pesado e aliviado de não ter sido assaltado mas com outras pendências a resolver com a mãe. Em sua cabeça ela inventa imagens de assalto, drogas, mortes, assassinatos, confusão, acidente de carro, etc. Quando ela tinha a idade que o filho tem hoje era proibida pelos pais de sair à noite “porque acontece tudo de ruim por aí” e “moça de família não sai à noite antes de casar”. O filho a faz voltar a sua idade e a suas coisas não resolvidas por várias razões, inclusive porque havia na família a preocupação de não casar. Ela já restringiu a família a um filho e ainda assim não consegue soltar seus medos, projetando-os no filho que é forte, saudável, masculino e faixa preta em judô. Até que ponto ela não quer soltar essa herança?
Uma conhecida teve um pai ausente e uma mãe histérica. Os irmãos saíram de casa um por um e ela ficou para trás, até que saiu para casar com um homem pai de três famílias. Só ela sabe o que projetou nesse homem pensando que estaria se livrando dos seus medos. A verdade é que ela acabou saindo da casa com quatro filhos, de pés descalços, para não ser assassinada pelo marido violento, alcoólatra, permissivo, sado-masoquista e mulherengo. Muitas foram as dificuldades e sofrimentos e ainda hoje fazem ela tenta manter os filhos adultos debaixo das suas asas para “protegê-los da crueldade do mundo”. Não liberta ninguém, e a última palavra é a dela. Mora em um lugar pouco desenvolvido, onde as chances de emprego são escassas, mas não deixa que os filhos procurem empregos e uma vida melhor em outras cidades mais propícias “para não ficarem longe de mim”. Os medos cristalizados, conhecidos e desconhecidos por ela não a deixam ver o horizonte que os filhos tanto merecem ter à sua frente. E ela reza todos os dias, com muito carinho, por todos os filhos, sem perceber que não adianta buscar a espiritualidade sem trabalhar as defesas do seu ego, as resistências, os medos profundos e irraizados da sua alma, aqueles que não a deixam dar vôos altos, arriscar um concurso público, investir na profissão, mudar para uma casa melhor, quebrar padrões que podem nem ser seus nem dos filhos. Uma amiga jornalista inteligente e competente viaja muito a serviço do seu jornal.
Quando chega a hora dela sentar e criar as matérias para enviar ao jornal ela começa a perder tudo: a chave do quarto do hotel, o gravador, as anotações, os óculos. Revira o quarto e a bolsa mas não acha nada. Quando alguém a ajuda a acalmar, ela enfia a mão na bolsa e acha tudo. Sentada de frente para a tela do computador, ela então precisa de um quilo de balas para chupar enquanto junta as idéias e escreve. Na hora de mandar as matérias, a internet não funciona, o computador está cheio de problemas e na verdade ela sequer ligou a linha telefônica no computador. Não precisa ir muito longe nessa história: ela foi educada em um colégio com a madre superiora era poderosa, daquelas que faziam tremer o chão onde pisava, que corrigia as provas apenas procurando os erros e jamais via com carinho os acertos. Claro que alguns jornalistas são seres especiais, auto-suficientes, até se acham semideuses e por tudo isso ela não procura ajuda especializada e nem consegue perceber o drama da sua vida atrelada ao medo.
Dá para notar um certo envelhecimento precoce no seu rosto… igual à madre superiora. O medo é construído por nós mesmos. Fazemos monstros das pequenas coisas e eles crescem, tomam conta das nossas partes fragilizadas e passam a residir na nossa sombra como um conjunto de bolas de soprar invisíveis amarradas na gola da nossa camisa. Pode-se dizer que medo é falta de coragem de enfrentar, é comodismo, é falta de vontade, é o conjunto de travas que muitas vezes não queremos retirar da nossa vida. Medo é encher o pescoço de amuletos e manter o coração longe da pureza da fé. É transferir para os outros as coisas que precisam ser trabalhadas em si mesmo, mas falta coragem, vontade, e a compreensão de que cada um é responsável pelo próprio desenvolvimento emocional, espiritual, mental. Proteger exageradamente os filhos da realidade da vida e do mundo é como manter uma infiltração que tenta se esconder na parede. Medo escurece a aura. Gera a química que faz o animal atacar com segurança.
Dá poder aos criminosos e aos vendedores de chácaras no céu. O medo faz você atrair exatamente aquilo que lhe amedronta porque você joga a sua energia vital nele, construindo assim o magnetismo que puxa. O medo é o responsável pela falta de vitalidade, de força para lutar pela felicidade, que atrapalha a energia da prosperidade, da abundância e da saúde. É o gancho do medo gerado na infância pobre ou desequilibrada que lhe faz insuportável, chato, grosseiro, egoísta, salafrário. É o medo que levanta o nariz do novo rico, daquele que passa a pisar em ovos quando arranja uma posição melhor, um emprego mais remunerado. É também o responsável por aqueles sapatos altos, que acabam com o equilíbrio da coluna e dos músculos do corpo; por aquelas roupas muito justas que salientam a sensualidade até no trabalho. É o facilitador da energia sem cor, aquela que alimenta o negativo, o pessimismo, aquela que lhe empurra para a dependência dos comprimidos para dormir. É o medo de encarar a vida real, de lutar pelo equilíbrio, que faz você se atirar nas artificialidades improdutivas e ilusórias da maconha e as drogas em geral. É possível expurgar o medo, mesmo aquele hereditário.
Como nada acontece na vida sem esforço, é preciso querer e realizar a vontade de se libertar dos medos. Não vá cair naquelas terapias que levam dez anos e você continua o mesmo. Procure ajuda profissional que lhe assessore a encontrar o seu próprio caminho da cura. Busque terapeutas que trabalham também com Florais/Reiki porque essa dupla afrouxa as energias emperradas e suaviza o caminho para você vomitar a energia do medo que emperra as portas e janelas da alegria da sua vida. É incrível o que acontece quando uma mão canalizadora de Reiki é posta sobre aquela região entre a linha dos mamilos e a boca do estômago. Uma criança educada com limites, o que é diferente de medo, tem uma vida mais saudável e cheia de sucesso em qualquer ramo de atividade que queira implementar porque a saúde – o equilíbrio – está ligada ao desprendimento, à liberdade para compreender que tudo é possível desde que a gente queira e esteja preparado emocionalmente para realizar.
É evidente de todo ser humano tem medo diante de uma situação nova e desconhecida. O que falamos aqui é daquele ser que fica preso à energia do medo mesmo já não tendo ao seu redor aquelas pessoas que lhe proporcionaram aquela âncora. Quando equilibrados, podemos usar a energia do medo como adrenalina e enfrentar a fera com a certeza de dominá-la. É como o bambu que mal se prende à superfície da terra, mas quando a tempestade vem ele se dobra, se arrasta no chão, e deixa que ela passe sem arranhões. É isso que o lutador de artes marciais faz quando alguém ataca. Ele se curva do lado oposto e o atacante cai com o peso do seu próprio corpo e da energia que usou para atacar. José Joacir dos Santos é psicanalista e jornalista.
jjoacir@yahoo.com
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